sábado, maio 23, 2009

Artigo do dia

Reproduzido do Blog do Noblat

Vergonha de quem?

No sábado passado, estava em Londrina, no Paraná. Lá, vi num adesivo de carro o lema: “Tenho vergonha dos políticos brasileiros”. Pensei em copiá-lo, adaptando o texto para: “Tenho vergonha dos motoristas brasileiros”.

Afinal, se temos vergonha dos políticos, tenhamos também dos motoristas, já que somos o país com maior índice de assassinatos no trânsito. Nossos motoristas são tão assassinos quanto os políticos são ladrões. Mas não vou generalizar: há motoristas cuidadosos, e há políticos decentes.

Pensei que a lista de adesivos poderia ser bem maior. Alguns exemplos seriam: “Tenho vergonha dos profissionais liberais brasileiros”, porque nos perguntam se queremos pagar com ou sem recibo; ou “Tenho vergonha dos contribuintes brasileiros”, porque aceitam sonegar impostos; ou “Tenho vergonha dos alfabetizados brasileiros”, porque são capazes de conviver tranquilamente com 14 milhões de compatriotas incapazes de ler, de reconhecer a própria bandeira. Ou ainda, “Tenho vergonha dos eleitores brasileiros”, porque foram eles que elegeram os políticos que envergonham os brasileiros.

Mas considerei que estava generalizando, e pensei em outro adesivo: “Tenho vergonha dos brasileiros que generalizam”.

O adesivo que vi em Londrina não estava errado. Hoje em dia, os motoristas têm razão em sentir vergonha de nós, políticos brasileiros. Assim como nós temos o direito de sentir vergonha dos motoristas. Mas esses adesivos que imaginei só se aplicam se atribuirmos a toda categoria os defeitos de alguns de seus membros. A diferença entre os políticos e as demais categorias é que, embora seja um erro generalizar, no que se refere ao nosso comportamento ético, é correto generalizar nossa incompetência para administrar o País, para eliminar a corrupção, para acabar com as vergonhas que sentimos. É um erro considerar que o comportamento corrupto está generalizado entre todos os políticos, mas é correto generalizar a responsabilidade dos políticos na aprovação das políticas públicas que fazem do Brasil um país atrasado, dividido, não-civilizado, desigual.

Aquele motorista de Londrina com o adesivo no carro atribuiu incorretamente o comportamento corrupto a todos os políticos. Ele certamente nem pensou em generalizar a incompetência que impede as lideranças políticas de mudarem os rumos do Brasil. Certamente, aquele motorista está incomodado com os políticos que se apropriam do dinheiro público, mas é bem possível que aprove as políticas orçamentárias que constroem mais viadutos do que escolas. Aquele motorista não deve se incomodar com políticas que o beneficiam – como a redução do IPI de automóveis –, mesmo que isso reduza recursos que atenderiam as necessidades da população pobre. Ele se declara contra a corrupção no comportamento dos políticos, mas é conivente com a corrupção nas prioridades das políticas públicas que o beneficiam.

O adesivo certo seria “tenho vergonha das políticas públicas brasileiras e dos políticos que as criam e aprovam, beneficiando a atual minoria privilegiada, e prejudicando a maioria excluída e as gerações futuras, que ficarão sem os recursos que estamos desperdiçando”. Outra sugestão de adesivo seria “tenho vergonha de ser mais um brasileiro que incinera florestas e cérebros”. “Tenho vergonha de queimarmos, por minuto, o equivalente a seis campos de futebol na Amazônia, e 60 cérebros de crianças, que são jogadas para fora da escola.”

Mas esses adesivos, além de muito compridos, não seriam bem compreendidos, porque, com nosso baixo nível de educação, somos incapazes de entender nuances e detalhes. Só entendemos as generalizações simplificadas.

Talvez o adesivo certo fosse “tenho vergonha do grau de deseducação dos brasileiros”, até porque essa é uma generalização bastante aceitável. Porque a deseducação dos brasileiros que não foram educados; ou dos que receberam educação, mas não a usam; ou a utilizam apenas em benefício próprio, sem nenhuma consideração pelo Brasil – presente e futuro – é, sim, generalizada.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

quinta-feira, maio 07, 2009

Petrobras é a 4ª empresa mais respeitada do mundo

Deu no MSN Notícias.

A Petrobras saltou do vigésimo para o quarto lugar entre as companhias mais respeitadas do mundo, segundo pesquisa divulgada pelo Reputation Institute (RI), empresa privada de assessoria e pesquisa, com sede em Nova York. O ranking relaciona 200 grandes empresas do mundo e é realizado anualmente desde 2006. Com a quarta posição, a Petrobras superou empresas como Fedex, Google, Microsoft, 3M, Honda, Philips, General Electric e Walt Disney Co.

O mesmo ranking internacional revela que, entre as brasileiras, a Petrobras aparece em primeiro lugar, à frente da Sadia (5º), Votorantim (20º) e Vale (28º). À frente da Petrobras, no ranking internacional, estão duas empresas europeias e uma norte-americana: Ferrero (Itália), Ikea (Suécia) e Johnson & Johnson (EUA).

A Petrobras conquistou também a melhor posição entre as empresas de energia. O Reputation Institute criou um modelo de avaliação (Modelo RepTrak) que mede o nível de estima, confiança, respeito e admiração, por meio de pesquisas realizadas com consumidores do país de origem das empresas. Foram realizadas 75 mil avaliações, de janeiro a março de 2009, em 32 países.

O Reputation Institute avalia sete dimensões que integram o modelo da instituição, com base em pesquisas qualitativas e quantitativas, e explicam a reputação de uma empresa no âmbito internacional: liderança, cidadania, performance, produtos/serviços, inovação, ambiente de trabalho e governança.

quarta-feira, maio 06, 2009

Economia - Virtudes x Defeitos

Deu no Blog do Robert Lobato


Ex-ministro Delfim Netto

ANTONIO DELFIM NETTO


Virtudes x defeitos


UM DOS ASPECTOS mais intrigantes do momento que estamos vivendo é a facilidade com que alguns intelectuais concluíram que a crise que se abateu sobre o sistema financeiro americano e infeccionou o resto do mundo é o ponto terminal do “capitalismo” e de seu acompanhante, o “liberalismo”.

Esta crise não seria apenas mais um dos movimentos cíclicos conhecidos, como no passado. Seria uma interrupção definitiva do mecanismo de seleção histórica quase natural pelo qual eles evoluíram.
Esse diagnóstico é muito simplista e sujeito a séria controvérsia.

Obviamente, “capitalismo” não é uma coisa. É um processo. O mesmo nome foi designando realidades históricas muito diversas. Sua instituição básica é a propriedade privada e a alocação de bens e serviços através de “mercados”. Isso exige a existência de um Estado capaz de garanti-los e a consequente execução dos contratos. Nele há uma clara distinção entre os proprietários dos bens de capital, que se apropriam do excedente produzido pelos não proprietários. Estes alugam a sua força de trabalho em troca de salário.

Trata-se de uma formação histórica, cuja origem se perde no tempo, mas que, a partir de meados do século 18, gerou um enorme aumento da produtividade do trabalho. Mudanças nas instituições da propriedade e a garantia da apropriação privada dos benefícios gerados pelas inovações revolucionaram o processo produtivo.

Por um lado, ela apresenta dois problemas complicados: uma ínsita tendência 1º) à flutuação da produção e do emprego e 2º) ao aumento da desigualdade na distribuição do produzido. Por outro, ela tem três virtudes: 1º) é compatível com a liberdade individual; 2º) é amplamente adaptativa; 3º) sendo resultado de um processo histórico, ela não é nem natural nem eterna.

A sua evolução em termos de eficiência produtiva compatível com a liberdade individual é visível.
Quanto à flutuação da produção e do emprego, ela parece estar diminuindo fortemente. Nos EUA, de 1953 a 1982, tivemos sete ciclos com período médio de quatro anos.

De 1983 a 2007, o período médio foi de 12 anos. Quanto à redução da desigualdade, bons projetos tributários têm corrigido de forma significativa o chamado índice de Gini. Isso sugere os efeitos positivos da ação consciente e indispensável do Estado-indutor para o bom funcionamento dos mercados.

A crise de 2008 mostra, na verdade, uma falha do Estado-regulador, corrompido pela ideologia do “mercado perfeito”. Não fala a favor da ressuscitação do Estado-produtor como tem sido sugerido por alguns afoitos…